Antes de optar é preciso se conhecer

Veja como autoconhecimento é importante para escolha da carreira

Publicado em 29/07/2008 - 13:00

Antes de sair por aí desesperado para conhecer o máximo de todas as profissões, condições de mercado, salários e possibilidades de crescimento, e assim decidir sobre qual carreira seguir, é preciso procurar conhecer a si mesmo. A dica não é dada só por profissionais acostumados a lidar com aconselhamento profissional, mas por estudantes que já optaram por uma carreira. E foi exatamente o que o estudante Vitor Álvaro de Biagi fez. Aos 17 anos ele já optou pelo curso de direito e diz que depois se conhecer é mais fácil identificar o caminho profissional porque fica fácil visualizar o futuro e projetar a carreira.

Biagi conta que a necessidade de autoconhecimento foi uma iniciativa dele mesmo, baseado na consciência pessoal que ele tinha de que era preciso olhar para dentro antes de achar uma resposta fora. Ele afirma que esse processo foi elaborado sem influência externa ou familiar. Teve como base a aptidão, as oportunidades pessoais e o mercado de trabalho. A única pressão que descreve ter sofrido foi fato dos irmãos dele terem ingressado no Ensino Superior na primeira tentativa e ele não, fato que segundo o estudante não prejudica ninguém, ainda que gere pressão. Para Biagi, o processo de conhecimento deve ser consigo mesmo para identificar suas afinidades. "As pessoas não têm só uma aptidão, elas têm várias aptidões e é nisso meu medo de errar", afirma ele.

Para o psicólogo, pedagogo, orientador profissional e professor da UEM (Universidade Estadual de Maringá) Marcos Maestri, a tarefa de conhecer a si mesmo compreende o entendimento de uma série de fatores, como habilidades, influências e aptidões. Segundo ele, é normal que exista a dúvida na hora de decidir a respeito da carreira. Maestri acredita que o autoconhecimento é a chave para se fazer uma boa escolha. "Toda decisão envolve riscos, escolher é abrir mão entre vários caminhos. Toda vez que você faz uma escolha é normal que você fique em dúvida, porque normalmente se escolhe algo para perder menos", explica Marcos.

Outro ponto a ser levado em consideração na avaliação de Maestri é a quantidade de cursos que existem atualmente. Segundo ele, surgem cada vez mais cursos no mercado, que diversificam as oportunidades e o mercado de trabalho. Mas a falta de divulgação desses novos cursos por parte das universidades e do interesse dos alunos em relação a eles acaba por intensificar o mercado das profissões tradicionais e as notas de corte nos vestibulares dessas carreiras crescem a cada ano.

Além disso, outro aspecto é posto como complicador nesta equação que vai nortear o jovem a respeito da escolha da carreira: o receio da escolha significar um caminho sem volta. A advertência é feita pela a psicóloga, mestre em educação, doutoranda em psicologia escolar e do desenvolvimento humano e professora da Mackenzie (Universidade Presbiteriana Mackenzie) Roseli Fernandes Lins Caldas. De acordo com ela, o grande erro e medo dos estudantes em suas decisões é a escolha como sendo da "profissão para a vida toda", como se só se houvesse uma única profissão que se encaixasse em seu perfil. Ela garante que a verdade não é essa.

Segundo Roseli, é importante conhecer cursos relacionados a seus interesses, já que por mais que se encaixe em algum curso ele não é o único em que o vestibulando se tornaria bom profissional. Ao invés de cursar medicina, ela sugere, por exemplo, que é possível buscar outros cursos da área biológica em que sejam identificadas aptidões, o mercado de trabalho seja favorável e não seja preciso gastar tanto tempo e dinheiro em cursinhos.

Justamente a quantidade de informações e de opções que por um lado podem ser uma saída, por outro criam outro ponto na indecisão do vestibulando: o medo de errar. A estudante Izabela Mariano, 18 anos, ainda não escolheu o curso que prestará, mas concorda com esta teoria. Como ela mesma define "nenhum tipo de frustração é legal". Começar algo e descobrir que não é aquilo que se quer é algo a se pensar na hora de escolher conscientemente. No entanto, para Izabela, isso não deve ser motivo de desanimo. Nesse sentido, Maestri garante que se a escolha for planejada, sólida e consistente e ainda assim houver a decepção não será tão intensa, pois houve antes uma avaliação da situação, não foi uma ação baseada no impulso.

Guinadas também podem compor o quadro de escolha da carreira. Que o diga o estudante Paulo Vieira de Azevedo, 21 anos. Hoje confiante na decisão de cursar medicina, ele diz que quando entrou no cursinho sua pretensão era prestar vestibular de engenharia. Mudar para outro extremo exigiu dele cuidado e reflexão. E foi justamente isto que Paulo buscou. A informação, assim como a descoberta de aptidão, só vieram após a conversa com um profissional da área.

E qual a melhor forma de buscar informação? Não há uma resposta correta para essa questão, mas sim várias possíveis. Tudo é válido. Mesmo indecisa, Izabela sabe que é preciso buscar informações nos meios mais variados, seja na Internet, seja numa conversa com profissionais ou estudantes das áreas de interesse. As habilidades são construídas com o tempo e nem sempre pode ser identificada à primeira vista. Como exemplifica Roseli algumas vezes a carreira é descoberta como o amor, apenas com a convivência.

Dinheiro

Não há como negar que a questão financeira pesa na escolha dos vestibulandos. Azevedo admite que o mercado de trabalho influenciou em sua escolha. Ele diz que tinha muito receio em acabar desempregado. Por sua vez, Izabela, embora não tenha decidido sobre a carreira que vai trilhar, afirma que o mercado de trabalho influencia na decisão. Se por um lado ela diz que precisa gostar da profissão em que trabalhará, também considera ter de haver um retorno financeiro. E mesmo no seu mergulho pessoal de autoconhecimento, Biagi levou em consideração o quesito dinheiro. Por isso buscou conhecer o mercado da profissão na hora de fazer a escolha.

Maestri explica que a questão financeira e de mercado "deve ser levada em consideração". Ele reforça que esse tem sido um ponto forte na decisão dos jovens, que levariam em consideração oportunidades, remuneração e continuidade da profissão. Para os jovens, o que o psicólogo explica pode ser traduzido como "medo de um dia ficar sem emprego". Mas a psicóloga Roseli alerta que entrar na universidade pensando no mercado é um risco, pois durante os anos da faculdade até a formatura essa conjuntura pode ter sofrido uma série de modificações. Para ela é fundamental que exista a realização profissional, afinal sem ela com certeza o mercado irá "engolir" este profissional.

Peso familiar

Por mais que muitos estudantes digam que não são influenciados pela pressão familiar, a realidade não parece ser bem essa. Ambos os psicólogos entrevistados acreditam na influência exercida pelo ambiente em que vive, no entanto, segundo eles, não percebem este processo, pois estão na fase de transição até se tornarem adultos, e para isto buscam acreditar que nada os influencia. Para Roseli não aceitar que há influência nos meios em que vivem é uma característica dos jovens por se sentirem onipotentes. "É a coisa do achar que ele não é afetado pelo outro, que ele pensa o que ele pensa por ele mesmo. Porque ele está ingressando na fase adulta e não dá pra admitir que o outro o esteja influenciando", explica a psicóloga.

Para Maestri, as atitudes dos pais influem nos filhos desde a infância, a partir do brinquedo que o pai dá para seu filho, até o modo como conversa sobre a escolha profissional. Segundo ele, ao se escolher a profissão, que pode ser a primeira grande decisão deste jovem, ele deseja a participação, ainda que inconscientemente, do pai. Mesmo que não pretenda segui-la. Para o pedagogo é como semelhante ao que ocorre no casamento, o filho sempre quer ouvir a aprovação dos pais.

Maestri e Roseli dizem que a influência familiar não deve ser encarada de forma negativa. Para eles, é importante a participação dos pais neste processo decisório. No entanto, é preciso ser levado em consideração alguns detalhes, por exemplo, a forma como os pais abordam o tema. Se for numa conversa, colocando a opinião, dizendo as áreas que estão em alta, o que combina com o filho, ou seja, usando da sua maturidade para mostrar caminhos, é positivo. No entanto, acrescentam que não é porque o pai é médico que o filho deve ser para continuar com o negócio. Como dizem os psicólogos: o papel do pai é instruir e não forçar uma situação.

Universia


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